terça-feira, 22 de maio de 2012

Aprendendo com a sombra de Fausto (2)


No nosso mundo contemporâneo o Fausto de Goethe tem inúmeros irmãos. Alguns deles mais conhecidos de todos nós: Darth Vader, o Exterminador, Mr. Hyde, Drácula, e todos os milhões de insatisfeitos que são atraídos pela promessa de poder, conquista, beleza eterna, na esperança de usurpar os domínios dos Deuses.

Como Fausto, cada um de nós anseia por sentido, por significado e por uma experiência que nos conecte a algo maior que nós. Como Fausto, desejamos acabar com nossa solidão, com nossas tristezas e como ele, cada um de nós se vende para um demônio, sacrificando, assim, a complexidade e autenticidade próprias em busca de se sentir seguro, ganhar amor ou dinheiro.

Nossas barganhas mais modernas não têm limites: trocamos nossa sensibilidade por um casamento de conveniência, ou nossa criatividade artística por um cargo bem remunerado. Trocamos nossa vida familiar por sucesso e influência no mercado. Trocamos paz de espírito por aparência e status. Trocamos relacionamentos autênticos por sexo anônimo. Trocamos autonomia por dependência financeira. Ou trocamos todas as nossas lutas em busca da nossa alma pelos prazeres temporários do vício. Em geral, essas barganhas são feitas na primeira metade a vida, quando os desejos da juventude parecem inabaláveis. São trocas e pactos inconscientes, sem avaliarmos os sacrifícios envolvidos, tais como: perda da vulnerabilidade, perda da intimidade, perda da autenticidade, perda da imaginação, perda da alma.

Mas, em algum momento, ou com a chegada da maturidade, ou de alguma forma dentro de nós, talvez, percebamos a mentira que dissemos a nós mesmos e aí é hora de confrontar a vida passada, o sonho perdido e o custo da barganha. Como Fausto, percebemos que não basta pagar ao diabo a sua parte, temos que reconhecer e aceitar nossa escuridão, nossa traição a nós mesmos. É hora de se dedicar ao aprendizado de identificar os personagens de sombra ou os sinais de sua presença. Estes sinais geralmente aparecem em pensamentos mecânicos e repetitivos do tipo: “nunca vou conseguir”, “sou estúpido demais”, “sou gorda demais”, “preciso beber alguma coisa”, “posso fazer isto amanhã”. Ou sentimentos negativos, como: medo, culpa, raiva, tristeza, angústia. Ou sensações corporais específicas: boca seca, mãos geladas, sudorese, aperto no peito, sentimento de vazio, desejo incontrolável. Ao reconhecer estes sinais como padrões repetitivos associados a determinadas situações, pode-se evitar ser dominado por suas conseqüências desastrosas, praticando outro papel: o do observador atento e encarar o perigo de frente, com cuidado e compaixão, pois, enquanto nossa amiga e companheira, nossa sombra vem nos mostrar o caminho da nossa evolução.  

terça-feira, 15 de maio de 2012

Como identificar nossos personagens de sombra?


Identificar um personagem de sombra não é tarefa fácil. Lembremos aqui um pequeno trecho de outra obra prima da literatura universal, Odisséia do poeta grego Homero, a fim de nos ajudar na construção de uma compreensão. Nessa história iremos conhecer os acontecimentos que envolvem um venerável navegador, Ulisses e sua travessia de volta para casa depois da guerra de Troia. É a viagem de Ulisses através do mar próximo às Ilhas das Sereias que nos interessa aqui, a fim de nos mostrar como reconhecer alguns dos sinais que antecedem a aparição dos nossos personagens sombrios a nos indicar que, a sedução do seu canto de sereia está para começar.

Durante a guerra de Tróia, muitos navios desapareciam com toda sua tripulação ao passarem pela ilha das Sereias, poderosas sedutoras e guerreiras femininas, atraíam suas vítimas cantando canções inebriantes para distraírem suas vítimas, que se destroçavam com suas embarcações nos rochedos. Ulisses, sabendo que iria enfrentar esse perigo, se precaveu, ordenando a seus remadores que usassem tampões de cera nos ouvidos e amarrando a si mesmo ao mastro do navio. Amarrado ao mastro, ainda que ouvisse os cantos embriagantes, não deixaria que seu navio se desviasse do curso e se arrebentasse nos rochedos.

Nossa interpretação aqui segue as orientações dos autores Connie Zweig e Steve Wolf, quando afirmam que o mastro do navio é como o Self (a alma) e a experiência de estar amarrado ao mastro é a sensação de estar enraizado ou aterrado no centro de si mesmo, de forma que as forças invasoras (pensamentos perturbadores, sentimentos fortes, sensações dolorosas, negatividades, medos) não possam nos desviar de nosso curso. No nosso contexto, ser seduzido pelo canto das sereias é o mesmo que cair em poder de forças estranhas e desconectar-se do Self.

Basta uma intensa emoção de momento: uma gota de medo, de ódio, de desejo incontrolável é suficiente para encharcar a psique e transbordar nosso corpo de sinais visíveis: sudorese, taquicardia, boca seca, respiração falha, etc. Uma única experiência temporária em um dos nossos sentidos ou emoção é suficiente para expressar seus desastres na pessoa inteira. E o que fazer quando nos sentimos levados pelos ventos fortes da emoção ou aprisionados pelo canto da sereia dos padrões compulsivos de pensamentos?  Se aprendermos com Ulisses, iremos nos precaver, ou seja, nos observar, o famoso “contar até cem” ou “respirar fundo”, entretanto, sem nos desviar os olhos do perigo a nossa frente, pois sabemos que nos encontraremos nessa situação outra e outras vezes. Como Ulisses nos ensina, ouvirmos os cantos sedutores dos padrões compulsivos dos nossos pensamentos sem, no entanto, desenraizarmos do nosso Self, sem deixar que estes cantos nos provoquem e nos seduzam a entrar no seu jogo.   

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Luz e Sombra que jogo é esse?

Estamos utilizando o termo “sombra” tendo como referência estudos em psicoterapia junguiana, cujos autores Connie Zweig e Steve Wolf, os mais recentes pesquisados, nos orientam para uma análise e reconhecimento do nosso lado sombrio. Segundo esses autores, em seu primeiro aspecto, a sombra é um quarto escuro, onde imagens e sonhos jazem adormecidos e o trabalho de autoconhecimento seria um processo pelo qual essas imagens e sonhos retornassem à vida.

Em seu segundo aspecto, a palavra sombra se refere aos conteúdos dos nossos pensamentos, às imagens arquetípicas reconhecidas imediata e intuitivamente como uma parte em nós que nos perturba: uma bruxa, um sádico, um sabotador, um mentiroso, uma vítima, um viciado. Além disso, essa palavra é usada também para os talentos latentes e os impulsos positivos que foram banidos na nossa infância: talentos artísticos, musicais, atléticos ou poéticos.

Em seu terceiro aspecto, o termo sombra se refere ao aspecto sombrio, ao lado escuro nosso ou de um arquétipo nosso: a mãe, o pai, irmão mais velho, deus, diabo, etc. Como a maioria de nós é treinada desde a infância a separar Deus do Diabo, o bem do mal, não conseguimos aguentar a tensão desses lados opostos durante muito tempo. Em vez disso, procuramos heróis idealizados, sem máculas, na tentativa de permanecermos otimistas e com esperanças. Ou, uma parte de nós cansada e cínica, espera sempre o pior nos outros. A alternativa para esta cisão, como mostram os autores acima, é cortejar a sombra como uma forma de VER e de CONHECER. E este é um longo e até, doloroso processo necessário a todos que se dispõem ao autoconhecimento com autenticidade e intimidade.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A dualidade está onde você está



Pensamentos negativos têm muitas caras e formas e originam-se no mesmo lugar onde todos os nossos desejos, emoções e sentimentos mais puros, mais sublimes, se formam. Nossa dualidade está onde estamos desde sempre: dois lados do corpo, dois lados do cérebro, dois gametas para criar um ser, o dia e a noite, o macho e a fêmea. Podemos perceber que a natureza é dual. Assim como o claro-escuro envolve o universo, também somos feitos de luz e sombra. 

A maioria dos mitos sobre a cosmogonia que se desenvolveu no ocidente fala de um movimento cíclico que se inicia nas trevas e vai para a luz. Como exemplo, resumimos brevemente o mito grego. Segundo este mito, primeiro era o Caos (vazio primordial, vale profundo, espaço incomensurável), matéria eterna, informe, rudimentar, dotada de energia prolífica. Depois surgiu a Terra (Gaia) – como eterna moradia para os deuses no Olimpo e no Tártaro (habitação profunda) e, simultaneamente, Eros (o Amor – a força do desejo). Do Caos surge a Noite (Nyx) e Erebos (a escuridão profunda). A Noite dá à luz, fecundada por Erebos, ao Dia (Hemera) e o Éter.

Muito bem, através desse mito grego iniciaremos nossa próxima reflexão: luz-sombra que jogo é esse? 

Veja um pouco mais em: http://herculeseseus12trabalhos.wordpress.com/category/4-cosmogonia-a-criacao-do-universo-hesiodo/
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