terça-feira, 15 de maio de 2012

Como identificar nossos personagens de sombra?


Identificar um personagem de sombra não é tarefa fácil. Lembremos aqui um pequeno trecho de outra obra prima da literatura universal, Odisséia do poeta grego Homero, a fim de nos ajudar na construção de uma compreensão. Nessa história iremos conhecer os acontecimentos que envolvem um venerável navegador, Ulisses e sua travessia de volta para casa depois da guerra de Troia. É a viagem de Ulisses através do mar próximo às Ilhas das Sereias que nos interessa aqui, a fim de nos mostrar como reconhecer alguns dos sinais que antecedem a aparição dos nossos personagens sombrios a nos indicar que, a sedução do seu canto de sereia está para começar.

Durante a guerra de Tróia, muitos navios desapareciam com toda sua tripulação ao passarem pela ilha das Sereias, poderosas sedutoras e guerreiras femininas, atraíam suas vítimas cantando canções inebriantes para distraírem suas vítimas, que se destroçavam com suas embarcações nos rochedos. Ulisses, sabendo que iria enfrentar esse perigo, se precaveu, ordenando a seus remadores que usassem tampões de cera nos ouvidos e amarrando a si mesmo ao mastro do navio. Amarrado ao mastro, ainda que ouvisse os cantos embriagantes, não deixaria que seu navio se desviasse do curso e se arrebentasse nos rochedos.

Nossa interpretação aqui segue as orientações dos autores Connie Zweig e Steve Wolf, quando afirmam que o mastro do navio é como o Self (a alma) e a experiência de estar amarrado ao mastro é a sensação de estar enraizado ou aterrado no centro de si mesmo, de forma que as forças invasoras (pensamentos perturbadores, sentimentos fortes, sensações dolorosas, negatividades, medos) não possam nos desviar de nosso curso. No nosso contexto, ser seduzido pelo canto das sereias é o mesmo que cair em poder de forças estranhas e desconectar-se do Self.

Basta uma intensa emoção de momento: uma gota de medo, de ódio, de desejo incontrolável é suficiente para encharcar a psique e transbordar nosso corpo de sinais visíveis: sudorese, taquicardia, boca seca, respiração falha, etc. Uma única experiência temporária em um dos nossos sentidos ou emoção é suficiente para expressar seus desastres na pessoa inteira. E o que fazer quando nos sentimos levados pelos ventos fortes da emoção ou aprisionados pelo canto da sereia dos padrões compulsivos de pensamentos?  Se aprendermos com Ulisses, iremos nos precaver, ou seja, nos observar, o famoso “contar até cem” ou “respirar fundo”, entretanto, sem nos desviar os olhos do perigo a nossa frente, pois sabemos que nos encontraremos nessa situação outra e outras vezes. Como Ulisses nos ensina, ouvirmos os cantos sedutores dos padrões compulsivos dos nossos pensamentos sem, no entanto, desenraizarmos do nosso Self, sem deixar que estes cantos nos provoquem e nos seduzam a entrar no seu jogo.   

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